quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PROFESSOR THALES, VINTE ANOS, ENGENHARIA DA MOURA, QUARENTA.



Início de 6ª feira. Fui chamado a atender um telefonema. Final de exaustivo dia de trabalho, término da jornada semanal. Avisavam do trágico acidente que nos forçava privar da companhia de Thales. Qualquer plano para aquele final de semana deixava de fazer qualquer nexo. Alguém o forçara sair da pista. A árvore era muito resistente para permitir a continuidade de sua jornada.
Vinte anos. Sobram para amigos e alunos distante memória daquele que tanto fez para o Ensino da Engenharia, com benevolência necessária e respeito: todos eram iguais. A diferenciar, seu distinto conhecimento como objeto de transferência do saber. Lutou para qualificar o material humano egresso das escolas que trabalhava, visando o cumprimento de suas futuras funções profissionais. E não se pautava por elevadas taxas de reprovação para dizer que seu curso tinha qualidade. Soberba não fazia parte da sua obra. Engenheiros, ex-alunos, reconheciam seu trabalho em encontros não planejados. O simples cruzar defronte uma mesa de escritório era suficiente para que a surpresa gerasse cumprimento acalorado ou sorriso. Aperto de mão selava o singelo tributo. Recompensa ao trabalho docente.
Anos 70. Thales recebia do Prof. França e do Dr. Oscar de Moura Lacerda, convite para participar do corpo docente do Curso de Engenharia Civil do Instituto Moura Lacerda. Convite este, feito também para outros grandes especialistas de outras áreas do conhecimento da Engenharia Civil, para compor quadro docente invejável da história de nossa escola. Professor Oscar de Moura Lacerda, educador e patrono de nossa escola, conseguia, mais uma vez, atingir seus objetivos. Ribeirão Preto contava finalmente com curso de Engenharia Civil, de forja que garante qualidade até aos nossos dias. E, ao lembrar do Prof. França, que, em elevada idade, não aceita repouso merecido, tenho guardada imagem de dedicação absoluta, sob frágil saúde. Subia o portão principal da Sede, com andador. Para e sorri ao ser cumprimentado. Tão difícil jornada como sua descrição sem deixar a emoção aflorar.
Thales saía de São Paulo para dar aulas na Moura. Não raro, a emoção de viver e o prazer de dar aulas, suplantavam seu cuidado com o peso do pé no acelerador e seu prazer em veículos possantes.
Docentes e especialistas que ministraram aulas nas primeiras turmas da Engenharia Civil da Moura, lentamente foram deixando nosso convívio ao longo dos anos. Thales permanecia. Outros docentes de distinta formação vieram, passaram ou ficaram nesta casa de educação e capacitação, tal como ocorre até nossos dias. Abrilhantam seu corpo docente.
Prof Tosetto, decano da Moura. Professor, Coordenador, Conselheiro. Mestre em relacionamento humano, onde a piada suaviza o relacionamento docente e apazigua ânimos discentes, após uma nota mais baixa. O pensar em aulas de Estruturas associa seu nome. Estradas, Thales. Desenho, Prof. Soutello, quando fica difícil entender porque Ribeirão não tem logradouro com seu nome: cultura avantajada, guerreiro do ensino que estende seu nome até à revolução de 32. Estes docentes representam tantos outros que aqui, nesta casa, cruzaram décadas ensinando, auxiliando o crescimento da Nação, sob o arrimo do produto intangível mais importante, a educação.
Thales. Consultorias internacionais ou nacionais transformavam-se em farto material de aulas, distintamente daqueles que não se propõem a ensinar o que realmente usam para auferir seus ganhos pessoais. Claro que falar do seu São Paulo na sala do Dr Oscar, onde bandeira comercialina a adornava, e tomar até da cerveja fresca de barril que marca Ribeirão Preto, às vezes de forma rápida para poder voltar logo para o seio familiar, eram fatos do cotidiano. Marcavam sua pessoa.
Anos 80, 90. Outros cursos de Engenharia Civil surgiram na região ribeirãopretana. Contudo, basta procurar opiniões sobre os egressos da Moura Lacerda, para saber que qualificação e capacitação distintas fazem parte de seus currículos, tendo como base a sólida estrutura curricular e docente, marcas indeléveis desde seu início. E Thales fez parte desta marcha em prol do ensino e da qualidade de vida dos alunos da Moura Lacerda, apesar do trágico acidente em rodovia que seu próprio nome leva, SP 318 - Rodovia Thales de Lorena Peixoto Júnior, interligando São Carlos e Ribeirão Preto. Sua memória continua a brilhar no imaginário dos amigos e ex-alunos.


Creso de Franco Peixoto
Engenheiro Civil e Mestre em Transportes
Professor do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Moura Lacerda
cresopeixoto@gmail.com

Um comentário:

  1. Parabéns Prof. Creso pelo artigo tão bem escrito e que lembra do saudoso Prof. Thales.
    Nos anos 80 tive a oportunidade de conviver com o Prof. Thales na sala de professores da UNIP-Bacelar em São Paulo. Além do grande engenheiro que foi, excelente professor, percebi também o grande coração que tinha esse homem do bem!
    Saudações!
    Prof. Sérgio Lopes

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